Normas Sociais

Introdução

Normas sociais são regras percebidas, informais e principalmente não escritas que definem ações aceitáveis e apropriadas dentro de um grupo ou comunidade. As normas sociais estão situadas na interseção entre comportamento, crenças e expectativas. Elas abrangem nossas próprias ações e nossas crenças sobre o que os outros fazem, aprovam e esperam de nós. 

Existe uma norma social quando fazemos algo, porque acreditamos que outros membros da comunidade ou pessoas como nós o fazem. Nesse caso, nosso comportamento está sendo conduzido por nosso desejo de nos adaptar ao comportamento dos outros. O que é conhecido como norma descritiva ou expectativa empírica. O grupo de pessoas para o qual modelamos nosso comportamento é chamado de nosso grupo de referência. Existe também uma norma social quando fazemos algo, porque acreditamos que aqueles que são importantes para nós aprovam. Nesse caso, nosso comportamento está sendo conduzido por nosso desejo de nos adaptarmos ao que pensamos que os outros valorizam ou esperam de nós. O que é conhecido como norma injuntiva ou expectativa normativa.

Em ambos os casos, nossas ações estão sendo influenciadas por como pensamos que os outros responderão ao nosso desempenho de um determinado comportamento (ou não). Essas expectativas são conhecidas como expectativas de resultados e podem ser positivas (recompensas) ou negativas (sanções).

Por que as normas sociais importam?

As normas sociais influenciam os comportamentos individuais, comunitários e institucionais, que podem ter consequências benéficas ou prejudiciais para o bem-estar das pessoas. Elas estão inseridas na sociedade e podem ditar como uma ordem social é produzida e mantida. As normas sociais ajudam as comunidades a funcionar, unindo-as e promovendo comportamentos coletivos. Porém, em alguns casos, a ordem social e os comportamentos comunitários mantidos podem ser prejudiciais e reforçar dinâmicas de poder injustas, promover a discriminação e as desigualdades sociais e de gênero.

Ao compreender as normas sociais e como elas influenciam o comportamento, podemos projetar intervenções de Mudança Social e Comportamental que vão além das atividades individuais, a fim de provocar mudanças coletivas. A erradicação de normas sociais prejudiciais e a promoção de normas positivas aumentam a probabilidade de mudanças positivas e duradouras.

Benefícios e objetivos sociais/comportamentais

Nem todos os comportamentos são conduzidos por normas sociais. As pessoas podem engajar-se em comportamentos pouco saudáveis ou nocivos por vários motivos, incluindo falta de conhecimento, percepções de baixo risco, falta de acesso, crenças pessoais ou religiosas e emoções associadas ao comportamento. Esses fatores não são normas sociais, pois existem independentemente do que os outros pensam ou fazem. Antes de projetar uma intervenção, você deve estudar o comportamento em questão e seus determinantes para estabelecer se as normas estão em jogo.

Se você definiu que seu comportamento-alvo é conduzido por uma norma social, a MSC pode ajudar você a:

Os exemplos apresentados acima são ilustrativos e não são, de forma alguma, as únicas abordagens disponíveis para você. Existem muitas maneiras diferentes de alcançar os resultados comportamentais desejados. Muitos dos exemplos são aplicáveis a mais de um resultado social/comportamental nesta tabela.

Características de intervenções de mudança de normas bem-sucedidas

De acordo com a Teoria e Prática de Intervenções de Normas Sociais: oito armadilhas comuns, intervenções eficazes de normas sociais fazem um ou mais dos seguintes:

• Determinar se as normas estão realmente apoiando e influenciando o comportamento. As normas sociais podem ser as regras de comportamento, mas nem sempre são o comportamento. Portanto, as intervenções de mudança de normas devem identificar as normas específicas que precisam ser abordadas para alcançar a mudança de comportamento desejada. Para obter orientação sobre como identificar normas relevantes, visite a Ferramenta de Exploração de Normas Sociais e Módulo 1 do Obtendo uma ferramenta prática.
• Descobrir a relação entre atitudes e normas sociais. As atitudes da comunidade são consistentes com as normas? Determine se a maioria das pessoas é realmente a favor da norma e do comportamento desejado.
• Identificar e interagir com grupos de referência. Converse com os membros da comunidade para descobrir de quem eles modelam o comportamento e de quem a opinião é mais importante para eles.

• Buscar mudanças no âmbito comunitário. As intervenções de mudança de normas articulam resultados no âmbito comunitário, em vez de mudanças nas percepções e atitudes no âmbito individual.

  A mudança no âmbito comunitário requer visibilidade da aceitação social do novo comportamento, apoio público à nova norma e serviços locais que a apoiem (por exemplo, disponibilidade de serviços para adolescentes, ao tentar mudar as normas em torno da saúde sexual e reprodutiva dos jovens).

• Enfatizar as normas e práticas positivas existentes. As normas são dinâmicas. Existem desvios positivos e adotantes iniciais em todas as comunidades ou grupos de referência. Você deve identificar essas pessoas e dar a elas espaço, informações, ferramentas e visibilidade para influenciar as demais. Essa ação aumenta o número de pessoas abandonando a norma que trabalha em prol da mudança no âmbito comunitário.
• Usar fontes confiáveis e credíveis para promover novos comportamentos e comportamentos positivos existentes. É fundamental para a construção de apoio a normas e comportamentos alternativos.
• Envolver-se com várias partes interessadas em todos os níveis do Modelo Socioecológico. Veja como as normas influenciam escolhas e comportamentos individuais. Explore as normas em jogo dentro de famílias, grupos de amigos, comunidades, prestadores de serviços, instituições e estruturas legais ou políticas.
• Envolver as comunidades como participantes ativos na promoção da reflexão crítica sobre as normas existentes e novas. Essas reflexões devem ser criativas, dinâmicas e atrativas, e ocorrer sempre em ambientes seguros.
• Enraizar o problema e quaisquer novas normas no sistema de valores e na cultura da comunidade. Aproveitar os valores da comunidade e os elementos culturais são formas poderosas de mudar atitudes e aumentar a aceitação de uma nova norma. 
• Promover normas positivas dentro de um grupo central para facilitar sua difusão.  Identifique desvios positivos e adotantes iniciais para ajudá-los a se tornarem agentes de mudança. Dê a essas pessoas as habilidades para envolver e influenciar outras pessoas na comunidade a abandonar normas prejudiciais ou adotar novas. Em última análise, a comunidade atingirá um ponto crítico em que uma massa crítica de pessoas redefine as normas dominantes e muda o comportamento coletivo. 
• Abordar os desequilíbrios de poder nos casos em que as práticas decorrem de desigualdades. Quando os comportamentos estão enraizados na desigualdade de gênero, você deve entender as normas de gênero em jogo e a dinâmica de poder entre homens e mulheres e meninos e meninas dentro da comunidade. Use o engajamento bidirecional para discutir, desafiar e explorar as normas de gênero, durante a intervenção ou abordagem.

Acima de tudo, as intervenções de mudança de normas nunca devem:

• Presumir que as normas sociais são o único condutor de uma prática prejudicial, mas tentar descobrir outros determinantes em todo o Modelo Socioecológico.
• Focar ou destacar o comportamento negativo, por exemplo, publicando estatísticas de quantas mulheres sofrem violência por parceiro íntimo, pois pode normalizar o comportamento involuntariamente e reforçar ainda mais a norma.
• Impor ideias de fora ou de cima para baixo.

Avaliação

As mudanças nas normas sociais podem ser rastreadas, ao medir as mudanças nas seguintes áreas:

1. Prevalência percebida de uma norma, ou como um norma é comum ou difundida (ou seja, normas descritivas)
   1. Quantas pessoas (dentro de uma determinada faixa etária) em sua comunidade têm o comportamento X?
   2. Quantas pessoas você conhece pessoalmente que optaram por não ter o comportamento X?
2. Expectativas percebidas de conformidade com a norma (ou seja, normas injuntivas)
   1. Você acha que sua família imediata espera que você continue ou abandone a prática X?
   2. Você acha que seus amigos e colegas esperam que você continue ou abandone a prática X?
3. Apoio social percebido ou reação negativa (expectativas de resultados positivos e negativos) por comportar-se fora de uma norma e por quem (ou seja, expectativas de resultados)
   1. Na sua opinião, quais são as sanções sociais (punições) associadas ao abandono da prática X?
   2. Na sua opinião, quais são os benefícios sociais (recompensas) associados ao abandono da prática X?
   3. Qual a probabilidade de você ser punido por outras pessoas se decidir abandonar a prática X?
4. Possível desacordo sobre uma norma
   1. Pense nos últimos cinco anos.Você acha que o número de pessoas (especifique a população) em sua comunidade que se engaja na prática X é agora muito menor, um pouco menor, mais ou menos o mesmo, um pouco mais ou muito mais do que cinco anos atrás?
   2. Pense em cinco anos no futuro.Você acha que o número de pessoas (especifique a população) em sua comunidade que se engaja na prática X será muito menor, um pouco menor, mais ou menos o mesmo, um pouco mais ou muito mais do que agora?

As normas sociais são tipicamente apenas um dos vários fatores que influenciam o comportamento. As intervenções devem buscar monitorar outros determinantes como conhecimento, atitudes, percepção de risco e autoeficácia. No entanto, é sempre importante explorar o papel que as normas sociais desempenham na condução de um determinado comportamento, bem como as redes sociais e grupos de referência existentes, pois estes serão fundamentais para definir a sua intervenção de MSC. Esforços devem ser feitos para realizar avaliações rápidas, mesmo quando os recursos são escassos.

Há várias etapas de medição de normas sociais, incluindo:

Parcerias

Para apoiar as intervenções de normas sociais, as parcerias devem ser consideradas em todo o Modelo Socioecológico, desde o nível familiar até os níveis político e social.Os parceiros potenciais incluem membros da família, líderes locais (religiosos, tradicionais, oficiais), prestadores de serviços (saúde, educação, justiça), grupos locais e organizações locais (incluindo organizações religiosas e comunitárias), instituições, formuladores de políticas e o mídia (local, nacional, digital). Certifique-se de que seus parceiros sejam relevantes para o contexto. Reserve um tempo para conhecer suas comunidades e descobrir seus grupos de referência e redes sociais, a fim de determinar a melhor forma de alcançá-los.Trabalhe com as comunidades para definir parcerias em todo o Modelo Socioecológico, a fim de garantir que você trabalhe dentro do espaço cultural em sintonia com a população afetada.

Estudos de caso e exemplos

• ÍNDIA:  Estudo randomizado por agrupamento em Odisha descobriu que uma abordagem baseada em normas sociais pode ajudar a promover o consumo de ferro e ácido fólico, por meio de mudanças nas normas descritivas (percepção das pessoas sobre quantas outras pessoas tomam ferro e ácido fólico), normas injuntivas (pressões sociais que as pessoas sentem para tomar ferro e ácido fólico ) e normas coletivas (níveis reais de consumo de ferro e ácido fólico).
• NEPAL: Avaliação do programa the Change Starts at Home (A Mudança Começa em Casa) descobriu que os diálogos e treinamentos baseados na comunidade são eficazes para facilitar a mudança das normas sociais, pois os participantes são efetivamente empoderados a compartilhar seus novos conhecimentos com outras pessoas em suas redes.
• UGANDA E RUANDA: Discussões em pequenos grupos melhoram a divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres, comunicação sobre relações sexuais e contracepção, e percepções de jovens meninas quanto à capacidade delas de participar de decisões da vida diária.
• MOÇAMBIQUE: Diálogo da comunidade muda normas sobre casamento infantil.
• ERITREA:  eEnvolvimento comunitário é usado para reduzir a mutilação genital feminina (MGF).
• SUDÃO: Iniciativa Saleema apresenta uma nova norma social positiva sobre permanecer sem cortes, reduzindo a norma da mutilação genital feminina.
• SENEGAL: Projeto Grandmother (Avó) aproveita o forte valor cultural das avós para criar normas positivas em torno do desenvolvimento holístico de mulheres jovens e meninas.

Principais recursos

Recursos gerais

• Defining social norms and related concepts
• The Social Norms Atlas
• The Challenge Paper
• Agora Course on Social Norms and Social Change 

Teoria da mudança de normas sociais

• Using Social Norms Theory for Health Promotion in Low-Income Countries
• A Critical Appraisal of the Social Norms Approach as an Interventional Strategy for Health-Related Behavior and Attitude Change
• Colaborativas de Aprendizagem de Normas Sociais Social Norms Background Reader 

Da teoria para a aplicação

• Mapping the Social-Norms Literature 
• Theory and Practice of Social Norms Interventions: Eight common pitfalls
• Social Norms and Child Marriage in Cameroon: An application of the theory of normative spectrum 
• do Instituto de Saúde Reprodutiva Social Norms and AYSRH: Building a bridge from theory to program design
• da CARE Internacional Applying Theory to Practice: CARE’s journey piloting social norms measures for gender programming
• The Getting Practical toolkit
• Shifting social norms to tackle violence against women and girls

Guias de instruções

• do Instituto de Saúde Reprodutiva Social Norms Exploration Tool (SNET) 
• do UNICEF Everybody Wants to Belong: A Practical Guide to Tackling and Leveraging Social Norms in Behavior Change Programming
• do ACNUR Changing the Culture by Changing Norms

Avaliação

• do UNICEF The ACT Framework Package: Measuring social norms around FGM
• de Colaborativas de Aprendizagem de Normas Sociais Monitoring Shifts in Social Norms: A Guidance Note for Program Implementers
• Participatory Research Toolkit for Social Norms Measurement 
• Measuring Gender and Social Norms
• Measuring Social and Behavioural Drivers of Child Protection Issues 
• Resources for Measuring Social Norms: A Practical Guide for Program Implementers
• Quantitative Measurement of Gendered Social Norms