Coleta de Evidências

Como coletar dados sociais e comportamentais.

Introdução

Antes de diagnosticar o problema e abordá-lo, você precisa coletar evidências sociais e comportamentais.

Esse processo ajudará a garantir que todos os desafios e decisões sejam baseados em evidências e insights locais.

Por que coletar evidências sociais e comportamentais?

Os comportamentos humanos são complexos.

Existem milhares de variáveis que influenciam as escolhas das pessoas, do contexto à cultura e tudo mais. Os determinantes dos fenômenos sociais costumam ser ainda mais complexos. A coleta de evidências sociais e comportamentais é uma forma de entender essa complexidade, ao disponibilizar informações e dados relacionados ao motivo pelo qual as pessoas fazem o que fazem ou a razão de uma sociedade ser estruturada por certas regras e interações.

As evidências precisam ser coletadas sistematicamente. Quanto mais informações você tiver em relação aos grupos de participantes, mais bem posicionado você estará para criar programas que atendam efetivamente às necessidades, interesses e pontos fortes desses grupos.

A evidência social e comportamental é importante porque:

Ajuda-nos a ter empatia com a população afetada, ou seja, seu dia a dia, o que a motiva e frusta, em quem essa população confia e no que acredita e deseja.
Destaca as barreiras que estão impedindo a mudança, quais alavancas positivas podem ser ativadas e o que deve ser abordado primeiro. Pode ser qualquer coisa, desde dinâmicas de poder e normas sociais até fatores estruturais, como acessibilidade e qualidade dos serviços.
Permite-nos colocar o problema dentro de sistemas maiores, pois as situações locais provavelmente estão conectadas a decisões políticas nacionais, sistemas econômicos ou questões internacionais.
Faz com que tenhamos ciência das ações existentes e iniciativas anteriores centradas no mesmo problema, para que possamos aprender com elas e criar sinergias.
Ajuda-nos a confirmar quais partes interessadas devem estar na liderança, especialmente aquelas dentro do governo e da sociedade civil.
Determina se nossas estratégias funcionarão no futuro, usando monitoramento contínuo para determinar se e como as barreiras estão mudando.
Ajuda-nos a mobilizar recursos e priorizar onde investi-los, por meio de uma análise do progresso sustentado que indica o motivo pelo qual um programa deve ser financiado ou ampliado. Ao longo desse exercício, é altamente recomendável que você selecione um modelo (consulte Por que as pessoas fazem o que fazem?) para estruturar a pesquisa e evitar pontos cegos e vieses.

Identificação das evidências que você já possui

A coleta de evidências sociais e comportamentais pode ser uma tarefa intensa em relação a tempo e recursos. Antes de começar a coletar novos dados sobre barreiras e alavancas, considere as evidências que você já possui. Fontes potenciais incluem:

Literatura cinzenta: Pesquisa que não passou por um processo de revisão por terceiros ou por pares. Inclui relatórios do governo, artigos técnicos, estudos de caso, anais de conferências etc.
Publicações acadêmicas: Pesquisa qualitativa ou quantitativa que passou por um processo de revisão por pares ou de terceiros para garantir a confiabilidade.
Relatórios de escuta social: Relatórios sobre discussões, palavras-chave e perguntas feitas nas redes sociais. Esses relatórios ajudam você a sintonizar a opinião pública e aprender quanto aos tipos de boatos ou desinformação que circulam no local.
Sistemas de informação do país e dados administrativos: Muitos governos e organizações têm bancos de dados que disponibilizam informações regulares e em tempo real sobre sua população.
Relatórios do censo nacional: Pesquisas nacionais que coletam informações sobre dados demográficos, econômicos e sociais nos níveis nacional, estadual e regional, a cada 5 a 10 anos.
Pesquisas por agrupamento de indicadores múltiplos e pesquisas demográfica de saúde: Pesquisas domiciliares que monitoram a situação de grupos populacionais, disponibilizam informações sobre desigualdades e avaliam o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs).
Pesquisas de Conhecimento, Atitude e Prática (CAP): Estudos sobre uma população específica que reúnem informações quanto a práticas e crenças gerais.
Pesquisas de cenário de mídia: Estudos que se concentram principalmente na capacidade dos canais de mídia de atingir a população e suas habilidades de segmentação geográfica e demográfica.

Seleção de metodologias de pesquisa para preencher as lacunas

Se a evidência revisada não for recente, não abranger suas populações-chave ou oferecer insights sobre seu desafio, você precisará conduzir sua própria pesquisa primária. Esta seção cobre seis metodologias de pesquisa comuns que você pode usar para preencher lacunas em sua pesquisa.

1. Entrevistas

O que são entrevistas?
Conversas estruturadas ou semiestruturadas entre um pesquisador e um ou mais respondentes. Essas conversas são guiadas por uma série de perguntas destinadas a revelar as atitudes, perspectivas, conhecimentos e intenções de uma pessoa quanto a uma determinada ideia, programa ou situação.

Existem dois tipos de entrevistas: Entrevistas com informantes-chave e Discussões em grupo focal.

Entrevistas com informantes-chave são entrevistas com apenas um entrevistado por vez. Os entrevistados são geralmente pessoas com conhecimento técnico específico ou uma posição relevante (por exemplo, funcionários do governo, líderes locais, trabalhadores da linha de frente etc.) ou pessoas que tiveram experiências diretas com os desafios que você está abordando (por exemplo, pais de crianças pequenas, professores, profissionais do sexo etc.)
Discussões em grupo focal são entrevistas com um grupo de entrevistados propositalmente selecionado, em torno de 6 a 10 pessoas. Os entrevistados respondem a um conjunto de perguntas abertas. A composição do grupo focal deve ser cuidadosamente considerada, a fim de tornar o relatório mais confiável possível. Por exemplo, para encorajar as mulheres a compartilhar suas opiniões sinceras sobre um tópico, considere organizar as discussões em grupo focal separadas para homens e mulheres. As discussões em grupo focal podem construir sua compreensão inicial do contexto e da cultura no começo do processo de pesquisa e fazer você entender as respostas do estudo e preencher as lacunas de conhecimento.

Por que as entrevistas são úteis?

As entrevistas oferecem contexto, proporcionando uma imagem mais completa dos dados que você coletou. Elas trazem à tona as nuances e complexidades da vida das pessoas e as histórias por trás das estatísticas. Ajudam você a criar empatia com as pessoas a serem atendidas e compreensão mais profunda da situação delas.

Quais são as limitações das entrevistas?
As respostas dos entrevistados são subjetivas e propensas a vieses. Os participantes podem optar por omitir informações que possam refletir negativamente sobre eles ou se sentirem pressionados a dizer o que eles supõem que o pesquisador quer ouvir. Sugestões sutis do tom de voz, reações ou expressões faciais do(a) pesquisador(a) podem influenciar a forma como as pessoas respondem a ele(a). As pessoas também têm interesses pessoais em situações locais, o que pode afetar as respostas. É importante triangular os resultados das entrevistas com os resultados de outros métodos, a fim de averiguar se determinadas afirmações são verdadeiras.

2. Observações

O que são observações?
Uma maneira de ver e ouvir coisas que as pessoas podem não dizer a você. Elas permitem que você documente e estude como as pessoas se comportam em situações da vida real (por exemplo, em casa, unidade de saúde, comunidade ou escola) e como respondem a certos desafios. As observações podem ser coletadas passivamente, usando ferramentas como vídeo com lapso de tempo para capturar o tráfego para as latrinas. As observações também podem ser coletadas por meio de interações, como perguntar às pessoas por que elas fazem certas coisas.

Por que as observações são úteis?
As observações podem ajudar a revelar influências de comportamento que as pessoas podem não mostrar em entrevistas. Elas também oferecem experiência visual, em primeira mão, dos problemas que as pessoas enfrentam e dos serviços pelos quais devem navegar. As observações ajudam a preencher a lacuna entre o que as pessoas dizem e o que fazem.

Quais são as limitações das observações?
As pessoas geralmente se comportam de maneira diferente quando estão sendo observadas. Para reduzir a influência de sua presença no comportamento delas, reserve tempo suficiente para conduzir as observações, de forma que as pessoas não se incomodem com sua presença. Você também deve triangular suas descobertas com outras evidências para validar suas observações.

3. Pesquisa de design centrado no ser humano

O que é pesquisa de design centrado no ser humano?
Um termo amplo do processo usado para entender melhor os desejos, necessidades e desafios subjacentes, e às vezes ocultos, dos grupos de participantes, ao formular em conjunto uma solução para um problema. Trata-se de ter conversas abertas para criar empatia com as pessoas com quem você está formulando, gerando ideias e construindo protótipos juntos, compartilhando o que você criou e, por fim, testando essas soluções no mundo.

Por que a pesquisa de design é útil?
A pesquisa de design centrado no ser humano é uma ferramenta prática e econômica para geração de evidências garantindo que as soluções considerem continuamente os participantes e suas necessidades.

Quais são as limitações?
A pesquisa de design centrado no ser humano é rápida, econômica e pode levar a insights mais rapidamente do que outros métodos. No entanto, os críticos argumentam que o processo é muito dependente da intuição e não dos fatos.

4. Mapeamento social

O que é mapeamento social?
Um método visual que ajuda a estudar e entender como os membros de uma comunidade interagem e afetam os pensamentos, sentimentos e ações uns dos outros, ao mapear grupos, pessoas e os relacionamentos destas em um diagrama. Em alguns casos, esses diagramas conseguem mapear a localização física dos domicílios em relação a importantes estruturas sociais da comunidade e outros locais importantes.

Por que o mapeamento social é útil?
O mapeamento social é útil porque ressalta as influências e diferenciais de poder. Ele revela quais partes interessadas são importantes para estabelecer parcerias e quais desigualdades sociais precisam ser abordadas. A análise espacial também oferece um ângulo diferente, ajudando a revelar pontos cegos.

Quais são as limitações?
Esse processo pode tornar-se bastante complexo em comunidades e grupos grandes e interconectados.

5. Pesquisas

O que são pesquisas?
Um conjunto de perguntas estruturadas que ajuda a entender várias dimensões de um problema. As pesquisas podem revelar determinantes cognitivos ou sociais de comportamentos, como atitudes, crenças e normas sociais. As pesquisas geralmente oferecem formatos de resposta fechados, como por níveis de classificação de concordância em uma escala. Por exemplo, uma pesquisa pode perguntar sobre a probabilidade de uma mãe amamentar seu recém-nascido em uma escala de 1 (pouco provável) a 7 (extremamente provável).

Por que as pesquisas são úteis?
As pesquisas são úteis para quantificar parâmetros e, posteriormente, para mensurar mudanças. Se os tamanhos das amostras forem grandes o suficiente, elas também podem ajudar a desagregar os dados para diferentes segmentos de uma população maior.

Quais são as limitações?
As pesquisas só são confiáveis se os entrevistados relatarem com precisão. As pessoas podem esquecer-se ou estarem alheias aos determinantes inconscientes que atuam em seus comportamentos e interações sociais. As pessoas também podem sentir-se pressionadas a responder de uma forma socialmente desejável. As pesquisas disponibilizam um escopo e exploração mais completos e ajudam a quantificar os resultados descobertos por medidas qualitativas; no entanto, elas são menos úteis para compreender o problema em si.

6. Experimentação

O que é experimentação?
Um procedimento onde um grupo de pessoas é exposto a uma intervenção-piloto para observar e avaliar o impacto dessa intervenção. O nível de experimentação a ser escolhido dependerá do tempo, recursos e capacidade disponíveis para você. Estudos clínicos randomizados são o tipo de experimento mais rigoroso. Em um estudo clínico randomizado, as pessoas são designadas aleatoriamente para um grupo de intervenção ou grupo de controle e os pesquisadores avaliam as diferenças nos resultados entre os grupos. Outros métodos comuns de experimentação incluem estudos pré-pós e testes A/B.

Por que a experimentação é útil?
Os experimentos são úteis porque ajudam você a compreender se uma intervenção terá o impacto pretendido. Eles ajudam a garantir a eficácia de uma solução, antes que ocorra qualquer grande investimento, e podem revelar impactos não intencionais.

Quais são as limitações?
A experimentação é uma etapa final que vem depois que o problema é bem compreendido. Experimentos podem ser demorados, por isso pode levar um bom tempo para obter resultados. A realização de experimentos rigorosos geralmente requer um investimento significativo de tempo e recursos.

Lembre-se de triangular

A Mudança Social e de Comportamento está diretamente relacionada a compreender situações complexas. Para alcançar essa compreensão, você deve usar uma variedade de abordagens de pesquisa.

Se você não compreende claramente o problema, considere métodos de pesquisa qualitativa, como entrevistas, observações, pesquisa de design centrado no ser humano e mapeamento social. Esse tipo de pesquisa formativa ajudará você posteriormente a projetar suas ferramentas quantitativas e garantir que elas estejam medindo as coisas certas.
Como normalmente envolvem um número grande de pessoas, os métodos de pesquisa quantitativa, como estudos e experimentos, podem ajudar a validar e quantificar descobertas qualitativas.

Consulte estas regras para ajudar a triangular suas descobertas:

Métodos qualitativos devem seguir métodos quantitativos quando...

Você quer term ais detalhes das respostas das pessoas
Você deseja criar mais empatia com os grupos de participantes.

Os métodos quantitativos devem seguir os métodos qualitativos quando...

Você quer saber se suas descobertas podem ser generalizadas para uma população mais ampla.
Você deseja testar uma hipótese com base nas informações coletadas por meio de entrevistas.
Você deseja avaliar os parâmetros que descobriu ou o impacto do trabalho.

Para mais informações sobre abordagens de métodos mistos e como combinar dados qualitativos e quantitativos, visite este site.